sexta-feira, 8 de abril de 2016

Reflexão da semana: adolescência complicada

Reflexão da semana: (sempre na esperança de ajudar alguém)
Eu tive muitos “amores”. Então ali por volta dos 11 ou 12 anos até os 15 eles duravam apenas alguns dias ou, no máximo, poucas semanas. Só depois dessa época é que as coisas começaram a tomar outras proporções e a ficarem mais... sofridas. Não se ver correspondida é algo chato pra caramba, ou era, aos 15 anos, em meio aos conturbados anos 90. Aquela época da vida que tu vê tuas amiguinhas com seus namoradinhos, vivenciando um mundo de descobertas e comentando sobre seus primeiros beijos, e que tu se sente feliz por elas, mas ao mesmo tempo, se sente um peixe fora d’água, ou, como eu mesma costumava dizer: um bichinho da goiaba!

É uma fase também que pode detonar a autoestima de uma menina, caso ela não tenha sido criada pra se amar acima de tudo, a não ligar pra comentários sobre a sua aparência ou o tamanho do corpo, se esse corpo estiver fora dos padrões “que uma mocinha deve ter se quiser arrumar namorado”. Adivinhem? Eu não estava nesse grupo “privilegiado”. Eu era a menina estranha da sala de aula, a que tinha boas notas, mas uma aparência ruim. A menina que não tinha o cabelo esvoaçante que, ao invés disso, carregava uma volumosa cabeleira cacheada, em tempos que não existia chapinha ou química progressiva. Mas já existia um padrão explícito de cabelo a seguir: o cabelo das revistas teen da época, que em 99% dos casos era o cabelo liso, em tons claros. A menina que não tinha um tom de pele mais claro, nem mais escuro, que ficava num “limbo” racial, em uma região do RS onde predomina as etnias alemã e polonesa. A menina que não carregava um sobrenome de tais origens. A menina que não tinham feições delicadas, um nariz fino e arrebitado ou grandes olhos verdes. Que não tinha pernas esguias e firmes. Ao contrário. Era a moça morena, baixinha e gorda num universo de potenciais Giseles Bundchens (que, aliás, era da cidade vizinha). E isso só reforçava que eu jamais teria um namorado, pelo menos não com aquela aparência “medonha”. 
Na minha cabeça porém, por algum tempo, eu fantasiava que a qualquer momento o menino mais bonito da rua ia falar comigo, ia finalmente ver que eu era legal, e que era bonita do meu jeito, mesmo que não fosse o jeito de todas as outras meninas, e na minha fantasia, era aquilo que me destacaria das demais. Mas esse dia nunca chegava e eu fui ficando deprimida e acreditando cada vez mais que eu precisaria ser, pelo menos, magra pra ter uma chance de não acabar sozinha.
Acredito que não preciso contar em detalhes a minha rotina nessa época, não? Uma rotina de ódio da imagem que eu via no espelho. Aliás, durante mais de uma década, o espelho pra mim foi algo que era usado apenas em caso de necessidade, ou seja, apenas naquele momento do dia que eu precisava domar meu cabelo que eu detestava. E quanto mais aquela repulsa crescia, mais crescia a minha tristeza e frustração com a vida. Mais eu chorava, mais eu comia, mais eu engordava, mais eu era reprovada por todos. 
Veja, quando se tem 15 ou 16 anos as coisas não estão ainda muito certas na cabeça. Invejo a geração de hoje, fruto de mulheres empoderadas, que poderá ter essa consciência de que se deve amar a si própria, ter autoestima e cuidar da saúde, e que isso pode acontecer mesmo que seu corpo não seja exatamente pequeno e leve. Que é ok vestir 46 ou 56, desde que sua saúde também esteja ok e que você esteja se amando loucamente. Uma geração que poderá entender, finalmente, que é muito melhor vestir um sorriso todos os dias do que um manto de lágrimas e raiva por si mesmo. Acredito que isso seja motivo suficiente pra lutar cada vez mais, pra expor ideais de amor próprio, ideias de tolerância com o seu próximo, não importa o quão diferente ele possa parecer de você. Porque no fim das contas, somos todos em essência iguais e temos o mesmo destino. 

Pra mim, as coisas começaram a mudar apenas aos 20 e poucos anos e hoje eu tento ajudar outras pessoas através do Blog e fora dele. Mas penso sempre naquelas pessoas que sucumbiram à depressão, por exemplo, por não se gostarem, por não terem o corpo da capa de revista. Imagem é uma coisa complicada, pois ela não diz NADA sobre quem a gente realmente é, ao mesmo tempo em que vivemos em um mundo que supervaloriza essa mesma imagem, essa mesma aparência estética e superficial, um mundo que valoriza a “casca” e que recém está tentando dar os primeiros passos na direção contrária, na direção certa.


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